31.3.21

EU ESTAVA LÁ, EU VIVI E NÃO QUERO VIVER MAIS


Nasci e cresci em meio à ditadura militar. Lembro-me muito bem, não preciso recorrer aos livros de história. 

Os mais velhos e saudosistas celebram um tempo onde o "respeito" à família e às tradições nacionalescas era a pauta e a ordem. Sem dúvida, tem gente que gosta de ser submetido, subjugado,  não ter qualquer liberdade de expressão. Trata-se da máxima do Zé Ramalho, "vida de gado, povo marcado, povo feliz". 

Eles ainda dizem: - naquela época não tinha tanto viado e lésbica!... destilando suas veias preconceituosas contra as diferenças. Sim, é verdade, não tinha tantos homossexuais, mesmo porquê eram recriminados, escurraçados. Lembro-me de uma noite, em um boteco de esquina perto de casa, um gay, cujo nome era Valeriano, ser espancado por um carroceiro só porque era viado... Não havia a sigla LGBT, as pessoas se escondiam, enrrustidas de medo e de vergonha de serem o que são. 

E as piadas racistas? Eram às pencas! E os negros tinham que saber o lugar deles neste mundo. Quando na época da ditadura, um negro poderia manifestar seu livre pensamento? Quando podia ascender socialmente? A não ser que fosse capacho "puxa-saco" da elite e que nunca falasse qualquer coisa contra o sistema. Simonal foi convidado pelos militares para acompanhar a seleção brasileira de futebol na Copa de 70. Ali, tudo bem! Desde que não se manifestasse contra o sistema. Na mesma época, no lado de cima, matavam Malcomm X e Luther King... 

E o posicionamento político então? Não havia redes sociais, mas ai daquele que falasse mal do presidente da república! Ai dos que se manifetassem contrários ao regime... Eram deportados para Perus...no cemitério clandestino da desova... Quantos torturados... quantos mortos por debaixo dos panos sombrios... quantos deportados...

Com a ditadura militar, jamais eu poderia escrever o que estou escrevendo nesse momento! 

Os artistas, os principais artistas do país, sofriam a malfadada censura que ceifava suas criações em cortes e rasgos infâmes. Você já viveu num mundo onde você não pode abrir a boca? Mas, estes que defendem a volta do regime autoritário, que prometeu ficar por pouco tempo e permaneceu 20 anos, gostam de ter suas liberdades tolhidas, desde que algumas migalhas e sobras sigam direto aos seus bolsos. 

-Não havia corrupção!, bradam eles. Ah sim, não havia chance de observar a corrupção, o que é diferente. Corrupção existe desde que o mundo é mundo. E com os militares não poderia ser diferente. Só que a corrupção era acobertada e, quem descobria, era assassinado. Simples assim! 

E a carestia? A inflação? Quase ninguém tinha o poder de compra de adquirir um automóvel que prestasse, mesmo porque os carros daquela época eram latas velhas, como disse certa vez, o ex-presidente Collor de Mello. 

A inflação era galopante. Um produto que custava X em um mês, depois de dois meses custava 20, 30 % a mais. Eu estava lá, eu vivi isso. O Brasil era refém do Fundo Monetário Internacional (FMI), quem não se lembra? Os militares endividaram o país de uma forma avassaladora, e o pior, não pagaram nada! Este era o milagre econômico! 

E depois que deixaram a terra arrasada, pularam fora do barco! Não estou aqui dizendo que todos os militares são pessoas do mal. Jamais! Há homens com dignidade, probidade, integridade. Eu acredito nisso, eu tenho que acreditar nisso.

Mas, antes que eu me despeça, eles deram o golpe sim!!! Assim como deram golpe para transformar o Império em República. Em 1964, o Brasil tinha um presidente civil, o vice de Jânio, que havia renunciado por conta das famigeradas "forças estranhas" (leia-se "estrangeiras") de L. Jonhnson, presidente dos Estados Unidos. O presidente chamava-se João Goulart, o Jango, que teve que sair foragido do Brasil, rumo ao Uruguai, com a ajuda do Leonel Brizola. 

Naquela época falava-se em ameaça comunista... E parte do povo, da classe política, além da imprensa, era conivente com o golpe. E agora? Qual é a ameaça? 

Eu digo: a ameaça está na liderança máxima deste país que vive ameaçando a dar golpes atrás de golpes para aniquilar a democracia. Assim como também ajuda a aniquilar, com sua postura negacionista e irresponsável, o povo brasileiro, com sua desorganização, incompetência e falta de planejamento para lidar com a maior crise sanitária do Brasil em todos os tempos. 

Ele sim, é o maior golpe no estômago que o Brasil enfrentou em sua história. 




Gêneros, raças, credos... estamos, mas não somos!

Somos espíritos encaixados em corpos perecíveis. Tal pensamento de Krishna corrobora com uma série de situações do cotidiano. Entre elas est...