2.2.21

Mensagem do coração de Lakshmi

 


*Um relato em homenagem a Bhagavan Sri Ramana Maharishi

Saudações, meu nome é Lakshmi. Na verdade, eu não tinha qualquer nome, mas aquele homem me apelidou de Lakshmi. 

Vou lhes contar um pouco da minha história. 

Estava eu pastando e mascando capim e algumas plantinhas quando eu vi uma espécie de luz branca se aproximar. Não tive medo. Quando aquele farol chegou perto de mim pude ver com os meus próprios olhos que se tratava de um grande homem vestido com um pano branco na cintura. 

Ele colocou suas mãos na minha cabeça e acariciou meus chifres. Era uma mão macia como a seda. Estranhamente me senti acolhida. Como um humano, que normalmente nos ignora, pode ter prestado atenção em mim?

Daquele momento em diante, nunca mais fui a mesma. Eu não queria ficar mais perto das criaturas da minha espécie. Era estranho... como se eu tivesse me tornado um ser individual, mais perto do Meu Criador. E não é que eu fiquei mesmo? Eu não saia de perto daquele homem quase nunca!

O tempo foi passando e eu vivia me aconchegando ao seu lado. Suas mãos eram bem quentes e confortáveis. E o alimento que vinha delas me nutria ainda mais. Muitos humanos sorriam observando a nossa proximidade. Eu não ligava, só queria estar perto daquele homem.

As vezes ele vinha andando com dificuldades e sentava-se ao meu lado. Isso para mim era pura felicidade! Como se diz na Índia, Ananda!

Na maioria das vezes ele ficava em silêncio e eu gostava mais ainda porque nunca foi preciso que ele falasse qualquer coisa. Eu sentia sua voz dentro do meu coração.  

Com o passar dos anos fui ficando mais velha. A idade chegou e com ela, os problemas. Mas, bastava a sua presença perto de mim que toda e qualquer dor se afastava. E certo dia, quando eu não sentia mais as minhas pernas e as minhas forças se esgotaram, ele veio manquitolando e me disse: - você quer que eu fique com você, não é, Lakshmi? 

Era o que eu mais queria. E então, deitei minha grande cabeça em seu pequeno colo. Nesse instante, ele colocou suas mãos por cima dela e no meu coração. Adormeci. 

Depois de um tempo, despertei muito mais leve e me levantei. Fui procurá-lo imediatamente e, um tempo depois, o achei sentado sobre as almofadas brancas de linho. Nunca mais sai do seu lado.

Eu não conseguia mais sentir suas mãos, mas o sentia por completo.  Até que um dia ele desapareceu das minhas vistas. Confesso que me senti desamparada e com medo. Pouco depois, comecei a escutar cânticos e mantras dos homens que o seguiam. De repente, vi esse homem, esse meu pai adotivo, caminhando em minha direção. Meus olhos saltaram de alegria! Ele estava mais iluminado do que nunca! Me sorriu e disse em silêncio: - podemos ir agora, Lakshmi! E saímos voando para o infinito...

Estamos em um lugar onde não existe noite. Tudo é cor e luz. Volta e meia a gente visita aquele lugar de antes e, curiosamente, tem uma estátua de vaca lá onde as pessoas depositam suas oferendas. Pode ser pretensão, mas acho que sou eu... E sabe de uma coisa: agora entendo que tudo aquilo faz parte de mim e não deixa de ser eu também: a estátua, todos aqueles homens, meu novo lar, meu pai...

 E sei que sempre estarei ao seu lado, eternamente, em silêncio. 

 

 

 

 

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