Quatro anos depois do Golpe Militar de 1964, um grupo de artistas brasileiros foram exilados. Entre eles, nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buraque de Holanda. Outros, ainda mais eloquentes, também tiveram o mesmo destino, casos de Geraldo Vandré e Taiguara. Uns voltaram, outros, não. Eu digo, não voltaram a si.
O principal motivo para a intervenção militar era o medo de uma iminente invasão comunista, depois da renúncia de Jânio Quadros. O vice-presidente João Goulart, mas conhecido pela alcunha de Jango, era um homem com preocupações sociais, ligado aos movimentos de esquerda. Seu discurso a favor da reforma agrária, entre outras benfeitorias direcionadas ao povo, foi a gota dágua para que ele fosse escorraçado do país, fugindo pela porta de trás.
Naquela época não só os militares, mas um grande contingente da classe média paulistana, além de entidades mais tradicionais como a FIESP e a OAB, além do movimento Tradição, Família e Propriedade, apoiaram as ações golpistas, exatamente como vivenciamos hoje. Essas mesmas instituições deram as caras novamente apoiando um golpe que eles batizam de constitucional. A bola da vez não foi chamar o irmão mais velho, aquele militar bombado provido de tanques e fuzis. Agora eles utilizaram o congresso mais reacionário da história do Brasil forrado de bancadas sectárias e preconceituosas. O nome de Deus foi fartamente utilizado como se fosse a expressão de uma Verdade.
A alegação espúria são as pedaladas fiscais, procedimentos contábeis fartamente utilizados por governos passados como o de FHC e o de Lula. Num país sério, isso jamais seria motivo de Impeachment. Num pais sério, não neste.
A alegação espúria são as pedaladas fiscais, procedimentos contábeis fartamente utilizados por governos passados como o de FHC e o de Lula. Num país sério, isso jamais seria motivo de Impeachment. Num pais sério, não neste.
Eu abomino o governo estadual de Geraldo Alckmin. Só a sua gestão na educação já me gera um certo desconforto intestinal. Mas, eu não expedi qualquer pedido de Impeachment ao governo deste tucano infeliz. Eu respeito o voto de milhões de pessoas que votaram em seu favor no estado de São Paulo.
Preâmbulos à parte, escrevi esta carta de auto-exílio para informar aos meus amigos e inimigos, que coleciono pelas jornadas reencarnatórias, que estou abdicando de lançar qualquer obra musical de minha autoria, sendo executada em CD ou DVD ou mesmo em lançamentos digitais.
Este ano de 2016 eu lançaria meu primeiro cd autoral, o "Voz do Silêncio", com a participação de parceiros em composições como Dery Nascimento, Gladston Galiza e Beatriz Rodarte, além das participações especiais da própria Beatriz, Eugênia Melo e Castro, Sérgio Gama e Marcus Viana.
Sou muito grato a todos!
Todo o processo de composição, separação de repertório, gravação, edição, mixagem, além de editoração gráfica, reunião com gravadoras e a conclusão final, foi muito doloroso e quase solitário. Poucas pessoas apostaram no meu trabalho e me ajudaram com o melhor de seus propósitos. Todavia, este caminho foi trilhado praticamente sozinho e sem ajuda financeira de qualquer pessoa.
Lançar uma obra fonográfica no Brasil requer muito investimento, muito trabalho e pouquíssimo, ou quase nenhum, retorno. Mesmo assim, pelo meu amor pela arte e pela música, heroicamente assenti em lançá-lo. O disco tem 12 canções, é absolutamente eclético e, modéstia à parte, dotado de muito bom gosto estético.
Todavia, diante da ofensa moral e ética que este país ofereceu aos seus artistas, pela infâmia do gesto que incinerou a democracia no Brasil, pela ditadura globista, imposta à cultura nacional, na aposta do que há de mais chulo e desqualificado (corroborando a opinião do mestre Paulo César Pinheiro que afirmou que a indústria fonográfica se prostituiu e que apenas produz entretenimento), por ver triunfar tantas nulidades, como disse o outro Barbosa, o Ruy, eu desisto oficialmente de lançar a obra, já pronta, "Voz do Silêncio".
Restam-me poucas coisas: a dignidade do meu caráter, o amor às minhas famílias (a tronco e a que formei), o meu afeto incondicional aos animais, o meu jornalismo sobrevivente e a minha espiritualidade.
Certo estou que esta carta não vai mudar em nada o destino da humanidade, nem tampouco causará impacto ou qualquer efeito para qualquer pessoa, talvez.
Minha intenção era lançar gradativamente obras de minha composição, para que estas pudessem ser ouvidas com amor, afeição, amizade, com um resto de poesia às poucas pessoas que se atrevessem a ouvi-las. No entanto, diante do luto da minha alma, algo em mim tem que ser sacrificado. Algo que encantou um maior número de pessoas: a minha música.
Continuarei sim firmemente no meu propósito espiritual. A minha vida segue. O meu som Para. Trata-se de uma dor pessoal. Sei que haverá parcos lamentos de alguns admiradores da minha poesia musical como, pro exemplo, na composição lírica de Jeito de Mato. A eles eu digo que o poeta não morreu, mas agora está mudo.
E, talvez, esse silêncio seja a única maneira que encontrei, de antemão, para expressar minha indignação com o momento vivido pelo Brasil.
Como não tenho para onde ir, me auto-exilo aqui mesmo.
Amigos, o Brasil passa por um processo cármico devastador. Tudo pode estar por um triz. Meu coração mediúnico dispara. Minha alma chora, Minha voz seca. Minha música morre.
Agradeço, assim, aos poucos que se afinizaram com as minhas canções, letras e melodias e aos tantos elogios, às muitas manifestações de afeto que recebi pelo caminho.
Mas, eu confio firmemente na vida depois da morte. Quem sabe eu possa voltar a reencarnar nesta mesma vida...
Hoje, eu sou apenas uma Voz do Silêncio com este Silêncio na Voz.
Que Deus nos proteja! Não aquele deus que foi evocado ontem...
Paz, Luz e Amor.
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