26.4.18

O ANDARILHO DAS SOMBRAS E O ASCETA DA LUZ


Certa vez, um andarilho, que caminhava na floresta de Madhira, encontrou um sadhu meditando em padmasana (posição de lótus). O peregrino se chamava Bhakta. Ao avistar o asceta, o romeiro posou ao seu lado e esperou que o iogue despertasse.

Algum tempo depois, quando o vento uivava as folhas secas, o homem sábio saiu de sua jornada espiritual e observou um estranho ao seu lado.

- Contemplas as flores ou o homem? - inquiriu.

-Observo a manifestação divina em ti, meu senhor. - respondeu.

- E por que não o fazes consigo mesmo? - perguntou o sadhu.

- Quem sou eu? Olho para dentro de mim e só vejo escuridão! - disse o caminhante.

Neste instante, o guru pediu para que o rapaz fechasse os olhos.

- O que vês? - indagou

- Nada. Sombras. Penumbras. - afirmou.

- Sim. Mantenha os olhos fechados. Agora, entorna tua cabeça para o alto. - pediu o erudito.

E assim, o viajante voltou sua face ao céu.

- Agora, abra os olhos, o que vês? - questionou o velho homem.

-Um céu azul, o sol a brilhar...

E o asceta então continuou.

- Somos perfeitamente isso, uma mescla de luz e de sombras. A penumbra e o céu azul. O sol e a escuridão. O universo forrado de estrelas e de vazios. Somos nós que escolhemos a visão que mais nos agrada, que mais nos auto-realiza. Se cerrarmos os olhos da consciência ou se abrimos as janelas do despertar. Por isso, guarda bem estas palavras. Não jugueis as sombras dos outros. Como pode um cego guiar outro cego? Toda vez que apontamos um dedo ao nosso semelhante, três dedos são apontados para nós. Levanta e segue tua estrada, ilumine-a com tua lâmpada interior.

E o caminheiro ergueu-se, juntou suas mãos à frente do peito e agradeceu o ensinamento. A partir daquele instante jamais acusaria alguém que cruzasse seu caminho.



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