2.10.18

A RESISTÊNCIA DA IGNORÂNCIA E O FASCISMO INTERIOR

Quando eu era adolescente, em plena década de 1980, eu frequentava um bar de esquina que vendia bolinho de ovo. Eu adorava! Lá havia sinuca, fliperama e uma turma heterogênea. Naquele bar tinha de tudo: mendigos, prostitutas, estudantes de classe média, bêbados...

Certa vez, um carroceiro com mão pesada, entre um gole e outro de cachaça, mexia com aquele que ele chamava de "viadinho pernambucano". Naquela época não existia o termo "gay", era viado ou bicha mesmo. Valdemiro era seu nome. Não tardou para que o rústico trabalhador truculento deferisse um tapa de mão aberta na cara de Miro, assim, do nada... E Miro indignado saiu chorando do bar... Eu fiquei horrorizado. Ninguém fez nada, só o dono do bar reclamou e pediu para que ele não fizesse mais isso.

Naquela época ser homossexual era uma ofensa, quantos apanharam...Eram julgados como sem vergonhas...

Em 1989 eu presenciei uma cena nojenta de racismo. Naquele tempo eu era dono de uma locadora de vídeo na Vila Monumento, em São Paulo. Eu tinha um amigo de infância, o Antonio, que veio trabalhar comigo como atendente. Numa noite, entrou um cidadão alterado e foi atendido pelo Antonio. Eu estava ao lado dele. Do nada, o sujeito invocou com a cara do meu amigo e começou a gritar: - Negro sujo, vem pra fora que eu vou matar você. Preto imundo! Berrava tanto que pensei em chamar a polícia. Confesso que fiquei com medo do cara estar armado. graças a Deus, o cão raivoso foi embora e ficamos sem ação. Anos depois, eu vi meu amigo negro curtindo a página de um político racista. Eu não entendi.

As décadas de 70, 80 e 90 eram recheadas com manifestações preconceituosas. Frases como "Nego quando não caga na entrada, caga na saída"; "Mulher no volante, perigo constante"; "Prefiro meu filho pegador do que viado", e por aí vai...

O mundo mudou (ainda bem!) e tivemos que nos adaptar à nova realidade. Antes, eu ficava chocado quando observava duas mulheres se beijando, é preciso ser honesto para confessar seus pecados. No entanto, tive que mudar meus conceitos e reverter meus preconceitos. Não, não admiro espetáculos públicos de sexo, sejam eles hetero ou homossexuais. Mas, quando vejo dois homens ou duas mulheres se beijando e entrelaçando os dedos das mãos atualmente, é uma imagem para mim absolutamente comum. Foi uma conquista, não?

No entanto, nem todo mundo rompeu com estes paradigmas e cresceu como consciência e cidadania. Boa parte do Brasil é preconceituosa. Muitas pessoas dão risada quando escutam que os quilombolas gordos pesam arrobas como se fossem bois. Muitos concordam que o filho ser homossexual é falta de porrada e que as mulheres nascem de uma fraquejada do espermatozoide. São os mesmos que estrondam "Vagabunda" pelos estádios. A mesma turma que joga banana no gramado para um jogador negro ou que xingam o goleiro de bicha quando este bate o tiro de meta.

Estas pessoas estagnaram no tempo e no espaço, não acompanharam as mudanças sociais e espirituais e o pior, não as respeitam. São a resistência da ignorância.

Estas pessoas colocarão assim um grande representante do seu fascismo interior que, nada mais é, que o espelho manchado de suas almas sombrias.

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