9.10.18

CRÔNICA DE UMA FAMÍLIA DESAJUSTADA NO AMOR

José Naldo tinha três filhos, uma menina e dois meninos. Era casado pela terceira vez. O primeiro a nascer foi Élio Naldo, o mais porreta e arretado de todos. O segundo foi Fernando, o mais estudioso e calado. Na terceira gestação de sua mulher veio uma menina.

Sua esposa, Márcia, era uma típica dona de casa, com afazeres domésticos diários. O menino mais velho era o orgulho macho da família. Lutava Jiu Jitsu, fazia academia, comia um monte de menininha. Já o segundo, o filho do meio, era retraído, chegava a irritar o pai. A menininha Mariana era a princesinha linda, sempre arrumadinha e de melissinha no pé.

Todos cresceram e a mulher nunca pode trabalhar fora. Tomava um antidepressivo pela manhã, e dois ansiolíticos, um à tarde, outro à noite para dormir. Era uma mulher frustrada, reprimida pelo machismo de seu esposo opressor. Infeliz e doente.

Certo dia, sua princesinha, que já contava 21 anos, depois de um ano ensaiando em apresentar seu namorado à família, teve a coragem de apresentá-lo numa tarde de domingo. Assim, Pedro Luís, um mulato que cursava o último ano de Admnistração, foi anunciado à família por Mariana. Ele entrou apenas uma vez na casa para nunca mais voltar. José Naldo proibiu o namoro dizendo que havia dado educação aos filhos e que não admitia que eles saíssem da linha. Mariana ficou inconsolável. Depois de alguns anos, Mariana foi morar em Londres para estudar e nunca mais voltar.

Já o filho mais novo, que começara a estudar Psicologia, não parava em casa. Chegava tarde da noite, muitas vezes bêbado. Numa ocasião, José Naldo teve uma surpresa quase infartante. Um amigo de longa data soube que Fernando se relacionava mais intimamente com meninos. José Naldo ficou furioso! Assim que Fernando chegou da faculdade, Josê Naldo o agrediu verbal e fisicamente, machucou bem. Proibiu o rapaz de andar com aquela turma de desviados. No entanto, Fernando não obedeceu a seu pai. Não havia outra alternativa se não colocar o moço pra fora de casa.

Élio Naldo sempre honrou o papel de macho. Puxou ao pai. Foi ser advogado.Adorava andar a 200 por hora com seu possante automóvel, agrediu namoradas uma dezena de vezes e amava caçar e pescar.

Já a esposa dedicada, dona de casa e mãe dos três filhos, era extremamente infeliz. Ela também sabia que o marido mantinha um imóvel só para levar a amante.

Naquela casa havia disciplina e ordem. Todo mundo andava nos trilhos!

Uma mãe triste, amargurada e desiludida, volta e meia doente psiquica e fisicamente. Encarcerada na redoma da infelicidade.

Um filho mais velho idiotizado, violento e preconceituoso.

Um filho mais novo, hoje homossexual assumido, mas deserdado da família.

E uma filha que havia sofrido racismo anteriormente e que, por conta deste episódio e de outros tantos, preferiu abandonar a casa.

José Naldo realmente havia colocado ordem e disciplina na casa.

Uma casa cuja família é tradicional e ordenada, alinhada aos padrões mais convencionais de moral e de bons costumes.

Uma família vazia e sem amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gêneros, raças, credos... estamos, mas não somos!

Somos espíritos encaixados em corpos perecíveis. Tal pensamento de Krishna corrobora com uma série de situações do cotidiano. Entre elas est...