A entrevista deselegante, mal educada e tendenciosa do Jornal Nacional da Rede Globo junto à candidata do PT, Dilma Rousseff foi uma vergonha à minha profissão já tão desgastada. O entrevistador, comandado pelo alto escalão da emissora, desferia ataques sem deixar que a candidata se pronunciasse. Os apresentadores, que não merecem ter seus nomes mencionados, não entrevistaram, apenas expressaram o posicionamento deste veículo de comunicação que, irmanado à Editora Abril, se beneficiou direta e indiretamente com o golpe militar. Basta aferir o crescimento destas mídias no começo dos anos 70, no auge do Dom & Ravel e de Os Incríveis. Já consigo visualizar a fome e a sede da então emissora do Silvio Santos, SBT, colocando sua âncora reacionária Sheherazade a entrevistar a chefe da nação... Justo este homem que ficou rico por tantas concessões dos governos militares e que as retribuía no quadro A Semana do Presidente!
Estou perdendo amigos. Eu cresci em São Paulo e desde menino acompanhava este tom de "Brasil, ame-o ou deixe-o". Na avenida perto de casa, eu assistia orgulhoso aos desfiles de 7 de setembro. Via programas de TV como Flávio Cavalcanti, show de calouros do Silvio, Jota Silvestre, Hebe Camargo... Eu imitava estes mesmos Incríveis quando tocavam a música que amava os Beatles e os Rolling Stones.
Aprendi com a minha família que os militares vieram colocar ordem e progresso e que os comunistas comiam as criancinhas. Depois cresci vendo o Paulo Maluf visitando as obras, comendo pastel em Campos do Jordão e escutando o bordão "Rouba, mas faz". Logo após, acompanhei a fabricação global de um engomadinho poliglota na ascensão de Fernando Collor e sua posterior queda provocada pela mesma emissora que o elegeu.
No entanto, estudei, pesquisei, li, reli e pude notar que a minha família havia ensinado errado e que os movimentos revolucionários abarcavam gente que queria livrar este país das mãos de quem o violentou, de quem o pegou à força e o torturou. Não eram terroristas, ao contrário, muitos eram e são heróis ocultos.
Também pude ver um homem do povo, vindo do povo, de uma família miserável do interior do Pernambuco, sem eira e nem beira, chegar aos movimentos sindicais e se tornar o primeiro presidente realmente popular deste país e não um aristocrata, um elitista, intelectual ou militar. E o melhor, este homem do povo realizou a melhor gestão da história do Brasil facilmente comprovada em números.
Mas, percebi que os amigos e filhos de amigos e seus netos, continuavam na mesa toada militarista dos anos 70, achando que a Ditadura Militar foi necessária para instalar a boa conduta, que o Maluf rouba, mas faz, que a Dilma é terrorista, que o Lula é comunista e que a Rede Globo e a Veja fazem o melhor jornalismo do Brasil, exatamente porque eles só leem (ou não leem nada) a Veja e só assistem aos programas vendidos da Globo.
Mas, este ódio tamanho contra a Dilma e o Lula é absolutamente compreensível neste país que se traveste de libertário, mas é absurdamente preconceituoso e elitista. Eu que não sou PTista e nem militante consegui observar algumas constatações.
Dilma é mulher em um país que não suporta a ideia de uma mulher aguentar tanta porrada como sempre sem sair do salto e ainda com a possibilidade de se eleger e se reeleger. O Brasil não consegue engolir que um torneiro mecânico tenha transformado radicalmente o quadro social do país, mudando pobres em classe média. Hoje, um mauricinho que usa tênis de marca como eu uso, pode sentar-se ao lado de um cidadão do povo com um tênis um pouco melhor, em uma das três poltronas da classe econômica nas aeronaves. Difícil ver um negro dirigindo uma Land Rover... É pesarosa a ascensão das classes menos providas, não?
Mas, a principal razão que eu leio nos comentários das redes sociais é: não suporto o PT, odeio o Lula, e abomino a Dilma e não vou com a cara dela. Falam também de corrupção num país historicamente corrupto, desde o descobrimento em 1500 e que sempre jogou a sujeira por baixo do tapete. Por que será que aparece agora? Exatamente porque agora a sujeira pode aparecer...
Estes são os argumentos. E eles não são argumentos. São ódios clubísticos. A mesma visão e comportamento que faz um torcedor de um time matar um outro torcedor simplesmente porque torce para outro time. Ou então, um religioso massacrar outro devoto em nome de Jesus.
Penso em me mudar para o Uruguai.
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