Entramos no restaurante e logo pegamos uma mesa. Minha amiga estava afoita, sofrida, chorosa. Ansiosa para contar os detalhes de uma possível relação amorosa. Sentamos e logo eu pedi um café. Ela foi pro sanduíche com refrigerante zero.
- Deixa eu te contar. Então, ele respon..., só um minuto - o celular dela fez Plim.
Chegou meu café. O lanche dela ainda não tinha vindo. Ela respondia o torpedo pelo seu teclado touch screen. Pronto. Voltamos.
- Ai, desculpa, era a Tati. Então, ele respondeu minha mensagem de um modo assim... - Plim, o celular de novo apitou. Só um momento. - pediu pra mim.
E respondeu a mensagem da amiga, agora de maneira mais demorada. Pronto. Voltando.
- E você sabe o que ele me disse?
Nesse momento, acabara de chegar seu lanche quase desmontado.
- Ai, pera. Que delícia! - mordendo um naco substancial...
Eu já tinha acabado de tomar meu café, quando ela prosseguiu de boca cheia.
- O cara não é foda? Eu dou a maior atenção pra ele e ele me responde assim? - Plim, de novo o celular. Era o cara.
- Ai meu Deus, é ele! Espera um pouco.
Pedi outro café. Nesse momento ela engoliu pedaços monstruosos do sanduba entrecortados pelas mensagens de texto pelo i-phone. Chegou meu café. Ela já estava acabando sua refeição, quando o cara deu uma trégua.
- Putz, a gente não tá conseguindo se falar, né? Mas, me conta, e você? - Plim, era o diabo de novo.
E assim, outra verdadeira avalanche textual. Ela sorveu o último gole de refrigerante e disse:
- Querido, foi muito bom te ver. Adoro falar com você. Mas, eu tenho que sair correndo. O Adilson vai entrar no msn daqui a meia hora. Você se incomoda se eu for embora?
Acredito que isso esteja acontecendo com certa frequência com as pessoas. E também creio que ninguém aprofunde mais suas relações. Tudo é breve, virtual. Onde está a humanidade? Estamos criando uma espécie de seres humanos que só se relacionam virtualmente e não assumem suas vidas reais.
Eu gosto de tecnologias, mas eu prefiro as pessoas.
Acho que vamos voltar à idade da pedra.
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